sábado, 25 de setembro de 2010

"A estrada vai além do que se vê..."


Conheci a banda Los Hermanos da mesma forma que você (provavelmente) e 90% da população brasileira (não espere exatidão nesta porcentagem): através de Anna Julia (assim mesmo, como na capa do CD: Anna com dois "N" e Julia sem acento). Até então, Los Hermanos era uma banda que tinha todo o potencial para figurar as listas da MTV e de tudo o que era pop. E foi sucesso absoluto.

Acontece que, quem pensava que eles continuariam naquela mesma linha, acabou se enganando. De repente, o que se ouvia era uma sonoridade muito diferente do que aquela música estourada nas paradas de sucesso (essa expressão é tão antiquada!) apresentava, e o que se viu foi algo completamente diferente daquela música que contava a história de um amor não correspondido.

Confesso que, por um bom tempo, neguei-me a dar atenção à banda porque dei ouvidos às fofocas de que Los Hermanos não mais tocava (não flexiono o verbo porque me refiro à banda. E considere assim daqui por diante, caro leitor) Anna Julia em seus shows. Então pensei: "muito bonito! Cuspindo no prato que comeu... depois de alcançar o sucesso, fica aí, renegando as raízes!" Quanta imaturidade! MINHA, é claro! Até eu aceitar que o que houve foi um amadurecimento sonoro da banda, precisei que um batalhão de amigas se esforçasse em me convencer de que Los Hermanos era uma banda maravilhosa ao ponto de gravarem cds para que eu ouvisse e constatasse isso. Não foi preciso muito tempo para que eu percebesse que aquele som fazia parte de um mundo diferente.

"A flor" foi a primeira música a me provar que Los Hermanos era maior do que eu imaginava. Por isso, fui aos shows. E digo a você que, se você nunca foi a um show de Los Hermanos, não faz a menor ideia do que perdeu. Você perdeu, simplesmente, um dos shows mais viscerais que você poderia ver na vida. Ah, eu não estou me referindo à banda. Mais visceral do que o quarteto, é o seu público. Em show de Los Hermanos as pessoas gritam as canções, as pessoas veneram o som, todo o público fica voltado para o palco durante toda a duração do show cantando, inclusive, o instrumental das músicas. Isso mesmo! O público do show de Los Hermanos vira um quinto instrumento e se entrega às letras com paixão ao acompanhar o naipe de metais. Amigos abraçados bradam as letras que parecem despir a alma de seus intérpretes Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.

Se "A Flor" foi a música que me fez respeitar Los Hermanos, "Último Romance" foi a música que me fez ficar COMPLETAMENTE FASCINADA pela banda. Ouvir o seguinte: "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei(...) E só de te ver, eu penso em trocar a minha TV num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira, e ir onde o vento for, que pra nós dois sair de casa já é se aventurar..." cantada na voz rasgada de Rodrigo Amarante, simplesmente, possibilita a você a chance de elevar seu nível de exigência musical, tamanha a genialidade da sutileza detalhada na canção.

E a interação entre o público e a banda se estendia ao cantar "eu só aceito a condição de ter você só pra mim. Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir...". Ou ainda, "é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê", bem como "numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê" [Informação que talvez lhe interesse: esta expressão, inclusive, é uma das mais repetidas no "quem sou" do orkut, onde as pessoas se definem. Em sua maioria, sequer sabem a origem da expressão, sequer ouvem Los Hermanos].

Continuemos... expressões como "eu sei, é um doce te amar, o amargo é querer-te pra mim" e "como pode alguém sonhar o que é impossível saber? Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer (...) Não sei mais. Sinto que é como sonhar, que o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer..." fazem parte da imensa lista de letras cantadas a plenos pulmões por quem gosta da banda, por quem entende o seu som.

O chamado hiato (a pausa) que os integrantes da banda Los Hermanos se impuseram, causou frustração aos admiradores de suas músicas. Mas agora, a banda volta a fazer shows em alguns lugares do país (eu vou!), cujos ingressos, penso eu, já não existem mais. Quem comprou, comprou!

As músicas dos Los Hermanos (agora me refiro aos rapazes) não são comerciais e não precisam estar na moda. São músicas de verdade que já ganharam lugar no pedestal das grandes canções, que não expiram, não perdem o significado.

Você pode ouvir diversas músicas de diversos compositores e apontar várias delas como integrantes da trilha sonora da sua vida. Mas em se tratando de amor, posso lhe garantir, são as de Los Hermanos que retratam o amor que você pode ter e, no fundo, o que você realmente quer. E, se você tiver sorte... retratam o amor que você JÁ tem.

Realmente, com as músicas de Los Hermanos, você acaba percebendo que a estrada vai além do que se vê...


[Para assistir: DVD Los Hermanos no Cine Íris (de onde foi extraído o vídeo abaixo) e DVD Los Hermanos na Fundição Progresso / Para ouvir: Toda a obra de Los Hermanos (inclusive, Anna Julia)]

3 comentários:

  1. Lindo e marivilhoso post Carla!!! Só quem ama e conhece bem os Los Hermanos pra entender a intensidade das suas canções...

    ResponderExcluir
  2. Carla, "visceral" realmente é a palavra para adjetivar o show deles. Mal posso esperar pelo dia 15. Ótimo texto!

    ResponderExcluir
  3. Depois de tudo que vc escreveu sobre Los hermanos e as músicas citadas, fiquei com uma MEGA vergonha por não conhecer o trabalho da banda! Não fico com mais vergonha ainda pq conheço algumas composições de Marcelo Camelo!

    Assim como suas amigas fizeram, faça comigo! Deixe de ser egoísta e compartilhe! rss Que CD's ou músicas enviadas pela net! Preciso conhecer! Sei do seu bom gosto pra música e tenho ctz que irei gostar! ;-) #aguardando =D

    ResponderExcluir

Vamos brindar?