Tenho memória olfativa. E quem não tem? Ontem, eu me peguei lembrando da minha antiga escola, a primeira, onde eu estudei do maternal à 8ª série (como chamava antigamente), e tal lembrança foi provocada pelo cheiro. Cheiro de material escolar. Cheiro que me remeteu às memórias dos corredores daquela escola, daquelas salas de aula, daquele antigo prédio... De repente (nem tão de repente assim) eu percebi como o tempo passa rápido e como é interessante viajar um pouco ao passado e lembrar a imensa quantidade de coisas que já vivemos.
E nessa viagem, constato que aquela escola formou meu caráter. Não por ser uma escola religiosa, mas porque eu tive a sorte de conviver com as pessoas certas. Muitas dessas pessoas eu não vejo há anos, muitas eu sequer sei como estão hoje (torço para que estejam bem!), mas eu não as esqueço. Em compensação, algumas dessas amizades eu ainda mantenho, e acho isso incrível, porque vejo pessoas se lamentando por não conseguirem manter amizades por toda a vida. Não é o meu caso. Pelas escolas que passei e pela Universidade, consegui somar muito mais do que conhecimento, somei grandes pessoas que levo pela vida sem largar. As maiores e melhores amizades.
E da lembrança da primeira escola, veio a da segunda e, consequentemente, a reflexão do que esses períodos fizeram por mim. Eu que quis por tanto tempo ser jornalista, mudei a opção de carreira para fazer Direito. Tornei-me advogada, mas sempre com o pé (e principalmente as mãos) nesse mundo das letras não-jurídicas. A cabeça... essa sempre se dividiu entre os dois mundos. E isso me levou a ser oradora da turma na colação de grau, pela necessidade de expressar em palavras o que aquele momento significava. Muito mais do que encerrando uma etapa da minha vida, muito mais do que entrando efetivamente no mundo jurídico, eu estava materializando os sonhos que eu tive nos corredores daquela escola, daquele prédio antigo, naquela cantina que vendia refrigerante Taí e Fanta Uva (esta ainda como novidade): estava crescendo!
Eu não teria sido a aluna que fui não fosse o que aprendi naquela primeira escola. A segunda escola não teria sido a experiência maravilhosa que foi. A Universidade, essa sim foi a consequência daquelas linhas que eu havia escrito e que continuo escrevendo.
Olfato... como é danado este sentido! Tão danado quanto a audição que me provoca de igual maneira. Quando ouço “O Vento” de Los Hermanos, por exemplo, lembro IMEDIATAMENTE do meu último ano na Universidade, pois eu ouvia demais essa música nos quilômetros que me levavam à aula. E tais lembranças vêm sempre com um leve sorriso no rosto e um pedido silencioso de nunca esquecê-las.
Há alguns posts atrás eu falei sobre o Direito ter me escolhido, e não o contrário. E volto a acreditar que tenho razão. Porque, minha paixão pelas letras é tão imensa que só o destino mesmo para não me permitir marcar a opção jornalismo quando prestei vestibular. De lá para cá, tenho sido escritora, de incontáveis textos e coisas, de ilimitadas ideias, de incansáveis sonhos.
Acima de tudo sou, sem dúvida, a soma das minhas escolas, de suas paredes, dos cheiros, de suas pessoas, onde aprendi a sempre querer ser melhor. Com essas lembranças aprendi a ser saudade...
Profissional da área jurídica, do entretenimento, enfim, sou escritora, sou domadora das letras que me pertencem. Sou ilustradora gramatical das minhas ideias. Sou a versão mais velha daquela menina que sonhava em ser a maior jornalista do país, a maior jurista dos tribunais.
Mas ainda não sou tudo o que pretendo e posso ser. E por isso, lanço-me diariamente o desafio que aprendi desde pequena, que aprendi com meus sonhos e com o meu crescer: Desafio-me a ser mais... SEMPRE!
E de lembranças somos feitos. Fotográficas, auditivas, olfativas... E assim vamos criando novas lembranças, para que o futuro possa ter o prazer de ser nostálgico, de ser muito mais do que nosso sonho de criança... de ser a materialização incontestável das nossas conquistas.
É... o tempo realmente passa rápido. Bobagem! Eu corro ao lado dele... e o coloco em minhas mãos!
[Para assistir: The Goonies (Os Goonies), porque é o melhor filme para relembrar a infância. / Para ouvir: Tempo Perdido (Legião Urbana), porque eu gosto!]