terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma obra-prima chamada "para Francisco"

Já falei de filme, já falei de séries, já falei de música. Hoje eu vou sair um pouco dessa atmosfera de entretenimento e falar de um assunto mais sério. Vou falar de um outro blog. Um blog que coloca a maioria dos blogs "no chinelo", de tão bom que é. Ou melhor, de tão excelente que é!
Passeando pela internet, já há algum tempo, descobri um blog que é absolutamente magnífico. Ele ultrapassa a simplicidade que se espera de um blog e assume ares de grandeza digna de um Best seller. E pode sim ser um! O blog é o "para Francisco" que, com uma breve leitura, é possível perceber que se trata de um diário público de quem sofreu uma perda desastrosa e inesperada e dela conseguiu tirar forças para, em meio à dor, continuar a viver.
Cristiana Guerra, a autora, perdeu o amor de sua vida, Gui, dois meses antes do nascimento do filho tão esperado por ambos: Francisco. (Depois de ler o primeiro post, você já se sente no direito de ter a ousadia de chamá-la de Cris e de se referir ao seu amor como Gui, tamanha a proximidade que ela cria com seus relatos.)
Ao ver sua vida devastada pela perda, Cris teve que renascer para acalentar aquele que, do seu ventre, não sabia o que acontecia no mundo aqui fora. Francisco nasceria e jamais conheceria seu pai. Nasceu! Mas quanto a não conhecer o "Gui", essa verdade não pode ser tida como absoluta, pois Cris, diante de toda a complexidade que a morte traz, resolveu desafiar a dor e apresentar a seu filho tudo o que não poderia morrer junto com seu pai e, assim, possibilitar a Francisco um conhecimento profundo daquele que tanto queria viver para vê-lo crescer, daquele que tanto esperou, mas que por ironia do destino, foi-se cedo demais para realizar os tantos sonhos que tinha sonhado junto com ela. E assim nasceu o blog. Nele, Cris passou a contar a Francisco, ainda quando ele não podia entender, como havia sido a vida junto ao "Gui", como ele era, o que tinha feito de bom, os defeitos, como se amavam e como Francisco sempre foi uma esperança de futuro brilhante para eles. É o que se sente aos ler os relatos ali publicados. No blog, Cris despe-se de qualquer pudor e expõe a intimidade de seus sentimentos para quem quiser ler e entender. Publica e-mails trocados no cotidiano do casal, mostrando quanto o "Gui" era uma pessoa doce, o quanto era carinhoso e "meninão" (é essa a impressão que se tem ao ler suas descrições). Músicas, poemas e a sempre inevitável passagem do tempo. Quando escreve, Cris vai apresentando a Francisco seu pai e também a vida. Lamenta não só a ausência de "Gui", mas tudo o que faltará em razão dela e lamenta, também, pelo próprio "Gui", por não ter tido a chance de conhecer Francisco como ele realmente é, não apenas como sonhara.
E, paulatinamente, vemos Francisco crescer, a dor de Cris diminuir ou, simplesmente, transformar-se em outro sentimento em razão do tempo. Tempo que parece ser o maior aliado dela, pois é com o tempo que ela saboreia cada parte do crescimento de Francisco e é em cada uma dessas partes que ela vê e sempre verá o "Gui".
Torna-se impossível não perceber que o que cresce junto ao blog não é apenas Francisco, mas também a própria Cris. Há uma maturidade estranha (pois nos é estranho o que não conhecemos) para quem sofreu tanto e, por isso, admirável. E por mais que eu descreva aqui tudo o que se absorve do blog, ainda não será suficiente. É, como dito no título deste post, uma verdadeira obra-prima. E assim o é por ser verdadeiro, sincero, sem procurar se adequar a qualquer critério, estilo, qualquer modelo. Por ser natural, por ser intenso!
Do blog surgiu o livro de mesmo nome. E não preciso nem dizer que sugiro mais do que imediatamente a leitura de ambos. É muito mais do que um relato de vida, é uma lição diária de como se pode permanecer nela, apesar dos pesares, quando se tem por quem viver.
É uma triste história de perda transformada em uma linda história de renascimento que ainda está sendo contada, de um primor poucas vezes visto, como obras-primas devem ser.


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