sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sonhos de papel? Não! Direito no papel...



No ano de 2009, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu tornar inexigível o diploma em jornalismo para quem quisesse exercer a função de jornalista. Obviamente, tal decisão causou estrondosa polêmica na classe, bem como em outras áreas que se acharam no direito de interferir no assunto. É bem verdade que, posteriormente, uma Comissão da Câmara aprovou a exigência do diploma para jornalismo, mas é sabido que a PEC precisa ser aprovada em plenário para que a questão seja resolvida.

Não comecei a escrever esse texto no intuito de informar o resultado dessa disputa, nem explicar os pormenores jurídicos que envolvem a causa, mas sim para expor o quão irresponsável é a medida de diminuir a importância do diploma, não apenas pela queda na qualidade desse mercado, mas também pela desvalorização do profissional que tende a ter seu trabalho valorado de forma insuficiente.

Não somos ingênuos! Eu, pelo menos, não sou. Sabemos que há muito tempo a imprensa brasileira é formada não apenas por profissionais formados em jornalismo, mas por profissionais de diversas outras áreas que, de alguma forma, acabaram embarcando nesse mundo de informação e comunicação. Ou seja, mesmo com a exigência do diploma para serem, de fato, jornalistas, muitos atuavam e atuam na área sem possuírem a titulação. Mas não são clandestinos ou algo do tipo. Simplesmente, no fim das contas, a exigência, em vários casos, acabava sendo mais voltada para o talento do que para a formação propriamente dita. E não digo que isso tenha sido maléfico à sociedade. Em muitos e incontáveis casos, "jornalistas" por exercício eram e são mais competentes do que muitos jornalistas por formação.

Mas pensemos da seguinte forma: imagine se qualquer pessoa, com qualquer formação pudesse ser médico sem ter se formado em medicina, ser advogado sem ser formado em direito, ser engenheiro civil sem nunca ter frequentado uma aula sequer do curso de engenharia civil. Você confiaria nesses profissionais para examinar sua saúde, representá-lo em busca de seus direitos ou para construir sua casa? Provavelmente não! Quer dizer, COM CERTEZA, não! Por que com o jornalista haveria de ser diferente? Não seria ele tão profissional quanto os outros?

A faculdade de jornalismo não tem como princípio básico ensinar a escrever, o que não faz de você, caso escreva bem, um jornalista nato. Busca ensinar ética profissional e tudo o mais que estiver atrelada a ela, como toda e qualquer profissão tende a exigir de seus profissionais.

Não. Eu não sou jornalista. Escrevo muito (muito mesmo!) porque minha profissão exige e porque, acima de tudo, eu sou completamente fascinada pelas palavras, pela escrita e escrevo porque amo. Eu adoraria ser jornalista, pois sempre quis fazer jornalismo, mas acabei me formando em Direito, e deveria ficar feliz com a inexigibilidade do diploma de jornalista. Mas a verdade é que eu enlouqueceria de raiva se derrubassem a exigência do diploma de Bacharel em Direito ou a exigência de aprovação na prova da OAB para exercer a profissão de advogado. Mas, nada disso acontecerá, até porque, os pormenores jurídicos que protegem os cursos de Direito e que não protegeram o curso de Jornalismo são distintos.

Então você deve estar me perguntando qual a minha opinião sobre a situação dos profissionais não formados em jornalismo mas que atuam livremente como tal? Ora, na minha opinião, deve continuar a mesma. Não sou contra a presença de pessoas não formadas em jornalismo atuando no mundo do jornalismo. Entendeu? Sou contra a inexigência do diploma para reconhecer o profissional como jornalista. Estou falando de reconhecimento da formação.

Então você me pergunta: "Mas não seria o diploma apenas um pedaço de papel?" Não! O diploma, aos trancos e barrancos, é a comprovação de que determinada pessoa dedicou anos de sua vida ao estudo de determinada área para, talvez, ser um grande profissional. Garante que será competente? Não mesmo! Assim como nenhum diploma de área nenhuma é capaz de comprovar a qualidade profissional de uma pessoa e, nem por isso, outros cursos estão abandonando seus diplomas. Mas é o diploma, o pedaço de papel bonito que fica guardado com carinho, ou emoldurado com orgulho numa parede que diz ao mundo que você é um profissional de determinada área. Se você é um bom profissional, não é o diploma quem diz, mas você mesmo.

Eu conheço muitos profissionais que não têm formação em jornalismo, mas atuam na área e são infinitamente melhores do que muitos diplomados. Melhores no português, melhores no pensamento, no raciocínio, no "feeling", e que merecem exercer o "jornalismo" porque honram a profissão, independente da real formação de cada um. Mas, a meu ver, eles são, na verdade, consultores no jornalismo, mas não jornalistas. Não carregam o título.

Sei que muita gente vai discordar desse meu pensamento, mas é dessa forma que enxergo. Sei que ética não depende de diploma, sei que honestidade e talento também não.

Você pode discordar de mim e apresentar milhares de argumentos na tentativa de derrubar os pontos que levantei. Fique à vontade! Só lhe dou uma dica: experimente achar diploma irrelevante quando quiserem tomar o seu... Aí a história será diferente, e sua opinião também!

2 comentários:

  1. Carlinha observou um ponto muito importante "experimente achar diploma irrelevante quando quiserem tomar o seu..." isso explica tudo. As pessoas pensam que tudo é normal quando a questão não está diretamente ligada a ela. Porém, se observamos, quem iria aceitar a inexigibilidade do diploma de sua formação?
    Eu sou jornalista, passei quatro anos da minha vida em função desse curso. Eu me dediquei, me preparei... para que no término o esforço não valesse de nada?
    Há muitos profissionais de outras áreas atuando por aí como formadores de opinião, é certo que alguns deles tem talento, mas o fato é que nem todos conhecem as técnicas e a ética de um jornalista.
    No fim das contas o que se questiona é o porquê de eliminar a dignidade do diploma. Quais os interesses...??? "cri, cri, cri..."
    Bjão Carlinha

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  2. Muito bem colocado, Carla. Esse é um assunto que rendeu e (mesmo com a mídia já tendo deixado de lado) ainda rende muito no meio. Tenho alguns amigos que estavam no início do curso e colocaram em cheque se realmente valia a pena levar a adiante com essa decisão do STF. E outros já no final do curso foram por alguns minutos levados a pensar de que nada valeu os anos investidos na profissão. Tente convence-los de que faz algum senti ou tem algum fundamento aceitavel esssa decisão. Foi também falta de bom senso para com os profissionais e desrespeito pela profissão. Agora "um ano" para o plenário formalizar. aiai
    Mas é como diz o ditado: "Pimenta nos olhos dos outros é refresco".
    Beijão!

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